Ensinança  1: A Vocação Contemplativa 
          
          A contemplação divina é o destino de todos os  homens.
          Como não se compreende a  contemplação, opõe-se a vida contemplativa à vida no mundo. Duas coisas que se  opõem não podem ser reais entre si.
          A contemplação é necessária  porque é a possibilidade última do homem. Isto não significa que todo homem  seja por natureza um contemplativo, senão que se deve dar ao termo contemplação  seu significado mais amplo e universal.
          A contemplação não é um  caminho característico para determinadas almas, nem se adapta só a certos temperamentos.  A contemplação é para o homem o único meio de experiência direta e total da  Verdade Divina, da Divina Mãe.
          A contemplação não é uma  possibilidade: é uma verdade. Só a experiência viva da alma é um conhecimento  real. Não se sabe por que se compreende, sabe-se porque se é.
          O caminho contemplativo não é  unilateral, mas integral.
          A contemplação como vida não  é o exercício continuado de certas orações, mas um estado permanente integrado  à realidade total da existência, ativa e passiva. Esta identificação leva em  forma rápida à inteligência sobrenatural das coisas divinas, que é o que  comumente se entende por contemplação.
          Se a contemplação estivesse  desconectada da vida ativa, seu fruto compreensivo não seria uma verdade  universal.
          A contemplação é consequência  espontânea da renúncia e prova evidente da Verdade da mesma.
          A contemplação é o nexo que  mantém a unidade de uma existência integral porque é o estado simples  subjacente na multiplicidade das experiências da vida.
          A contemplação não é a chegada  a um ponto definitivo de compreensão, mas a condição da vida dinâmica da alma  que permanece em contato substancial com a Divina Mãe.
          Fazer da vida espiritual uma  verdade é alcançar a experiência direta e pessoal da Verdade Divina. Senão  ocorre como dizia o Buda: ‘É como o lavrador que conta o gado do vizinho’.
          A contemplação é a  possibilidade imediata de todos aqueles com força interior suficiente, como  para manter-se continuamente fiel à sua vocação de divina liberdade.
          Por isso, não se pode falar de vida no  mundo e vida contemplativa. Não é o mundo quem se opõe à contemplação, mas os  apetites, desejos e apegos. A vida contemplativa não é um tipo de vida  especial, senão para a alma que morreu para as coisas do mundo.
          A distinção que se faz entre ativo e contemplativo  não significa que o temperamento possa excluir às almas do contato interior com  a Divina Mãe. Pelo contrário, a contemplação dá uma maior capacidade de ação,  ao multiplicar o potencial da alma pela renúncia a uma ação pessoal.
          Há normas de disciplina  interior e exterior que constituem o que comumente se entende por vida  contemplativa, mas não são outra coisa que os meios mais apropriados para levar  à prática real e metódica da Renúncia, que é o único que conduz a alma à  contemplação espiritual.
          Através da realização, a alma  há de desaparecer, a alma é um composto, e a resistência contínua e natural que  deve vencer com a ascética é a luta contra essa desaparição.
          A desaparição da alma não  significa um aniquilamento, mas sua colocação como instrumento do espírito. O  mundo é o reino da alma e a vida é uma contínua projeção para o exterior.
          A atração do exterior é uma  grande ignorância que não se destrói com o raciocínio simplesmente, mas com  fatos concretos. Não é suficiente desprender-se do que se tem, há que quebrar o  sentido possessivo. Não pode haver atração sem a ilusão da posse.
          O mundo chama através da  posse material, da posse afetiva, da posse intelectual. Mas nem sempre chama em  forma direta, mas através de um estado interior mundano que afasta da  contemplação.
          Muitas almas praticam uma  grande ascética de mortificação e oração, e não compreendem como depois de  tantos esforços, mantém o mesmo tipo de atitude frente ao mundo, e permanecem  às escuras frente à Divina Mãe; seu interior é mundano.
          Um interior mundano é aquele  centrado no mundo e não na Renúncia, que é, para o Filho, a Divina Mãe. Diz São  João da Cruz que não importa quão fino seja o fio que aprisione uma ave, sempre  impedirá seu vôo. 
          Isto não quer dizer que  somente no final do caminho obter-se-á a contemplação espiritual. Pode ser que  existam imperfeições e não um ser mundano. O que importa é a idéia central que  move a alma, e que pode ser muito diferente da que ela confessa. Muito amiúde a  insistência em dizer que não se está apegado a algo, oculta o temor de não  haver quebrado ainda esse laço.
      Há almas fervorosas que costumam ter na  oração, grandes arranques de amor divino, mas não podem alcançar a  contemplação, porque ainda há nelas um grande caudal emotivo para purificar e aquietar.  Os grandes movimentos da alma não são nunca uma oração muito elevada. Quanto  mais alta é a oração, tanto mais simples e essenciais são os movimentos  interiores, até que só permanece um estado de presença, como movimento simples  em si.
          A contemplação é o bem único  do espírito, porque é o contato direto com a Divina Mãe. Diz-se que é gozosa,  mas não no sentido sensível. A sensibilidade não trabalha e praticamente não  existe. O sentido da alma é profundo e simples, e nunca emotivo. Há que chegar  a não ter um movimento emotivo, que não seja volitivo para alcançar a  verdadeira contemplação. Os atos de virtude já não são atos realmente, senão  uma super-compreensão e tolerância humana, por um contato direto com a  realidade e verdade da vida. É, ao mesmo tempo, uma absoluta solidão do  Espírito à qual se chega após haver passado a grande solidão sensível.
  É a solidão do cume nevado,  inalcançável à maioria dos mortais.
          Há que descer à solidão  interior, à solidão absoluta do coração. Mas há que descer só. Há um lugar na  alma onde nada pode chegar, a não ser o Filho e a Divina Mãe. Ali está seu  tesouro.
          Primeiro se passa pela  solidão sensível; sentir-se só, que ninguém o possa acompanhar nem aproximar-se  dele. Logo vem a maravilhosa solidão espiritual: ‘Só com Ele só’.
          Não é uma consciência ativa  permanente da companhia divina, senão um sabor total do ser, da eternidade, e  de ser inacessível pelas contingências da existência e pelos seres. Pode-se  descer até eles, mas eles não podem chegar até nós.
        
          Ensinança 2: Recolhimento 
            
          A vida de oração é  essencialmente profundo recolhimento habitual. Neste recolhimento, achar-se-ão  os estados de oração, a fixação interior, a participação.
          Se bem que em todo caminho  ascético místico está previsto um tempo determinado para oração e exercícios  espirituais, estes nem sempre bastam como estímulos suficientes para o  recolhimento, quando a alma limita sua oração aos mesmos.
          Além disso, em muitos casos,  Filhos que tem verdadeiro recolhimento, sofrem na hora da meditação grandes  provas de aridez e distrações. Se bem que neles isto não seja de importância, é  naqueles que não têm suficiente espírito de oração, especialmente quando seu  tipo de vida lhes exige muito movimento, conversações contínuas e permanência  em ambientes muito pouco favoráveis à vida interior.
          Quando a necessidade de uma  virada interior é maior, maior há de ser também o número de atos de detenção e  recolhimento. É verdade que se pode orar continuamente, mas até que a oração  não seja subconsciente, a atividade, começando por atrair a atenção, termina  por envolver a alma na mesma. Além disso a conversação e trato contínuo com  pessoas de idéias e intenções geralmente opostas às dos Filho, criam centros de  força antagônicos que polarizam a energia espiritual da alma para objetivos  ilusórios, onde se gasta rapidamente. Não se pode opor sempre esta atração com  simples invocações ou orações fixas. Faz falta um movimento inverso da alma, a  fixação interior é o recolhimento.
          Há que descobrir o segredo  desse movimento; ter a chave da clausura do coração.
          Se isto é descuidado,  perde-se rapidamente o espírito da vida de Renúncia, que nada, fora do profundo  recolhimento, pode manter.
          Quando se perde o espírito  interior da vida de Renúncia, perde-se o contato com a Ensinança viva de Cafh,  e a União Substancial com a Divina Mãe se afasta até fazer-se um sonho a mais.
          Fora nada muda, tudo segue  igual na rotina comum dos atos diários; e, no entanto falta a vida, essa vida  que um simples cumprimento exterior não pode manter, senão que necessita uma  estabilidade interior, a fixação da alma na mística da Renúncia feita vida,  feita união. Faz falta esse imã interior irresistível que é a Divina Mãe.
        
          Ensinança 3: O Estado de Recolhimento 
            
          Ao falar de recolhimento, não  se quer significar esse estado sensível que a alma goza em algum tipo de oração  sem distrações.
          Tampouco a concentração  natural produzida por atividades que requerem alguma atenção, nem a mais ou  menos intensa nas obrigações diárias. O recolhimento não tem nada a ver com o  próprio dos estados de oração, se bem que estes predispõem ao mesmo. O  recolhimento não pode ser característico de um estado, é o estado mesmo. Os  chamados estados de recolhimento não são mais que manifestações mais ou menos  duráveis, produzidas pela persistência de certo tipo de oração e de vida. O  recolhimento como estado é expressão visível da Renúncia e se produz pelo  movimento inverso da alma. Movimento inverso não só com respeito à tendência de  atração para o mundano, mas inverso a todo sentido determinado.
          Movimento inverso não é  movimento em sentido oposto, mas movimento sem sentido aparente, o negativo  como estado espiritual. Por isso o recolhimento é permanência, pela sua  característica de não determinado.
          O determinado sempre está  dentro dos pares de opostos, dentro do ritmo cíclico. O não determinado é  verdadeiro estado como fixação independente do tempo, do sentido de dimensão e  orientação. ‘Profundidade’ seria a idéia mais indicada do mesmo.
          Os estados habituais de  recolhimento se desenvolvem todos dentro de outra dimensão, quer dizer, numa  dimensão. Têm orientação, então têm também princípio e fim; pelo mesmo deixam  de ser recolhimento.
          Recolhimento é o movimento  interno da alma, que é Renúncia.
          Tudo isto parece estar  desconectado da realidade que necessita de estados, atos e estímulos que  orientem a recolhimentos, mas não é assim.
          O recolhimento como estado  não nega os distintos estados de recolhimento desde o momento em que, sendo  estado não pode ter uma posição. Tudo é válido e necessário, mas é preciso conhecer  qual é o espírito da Renúncia, para não perder insensivelmente a essência da  vida do Filho. O recolhimento é a dádiva de amor da Divina Mãe para todos os  Filhos, porque é dádiva da Renúncia do Filho.
          O grau de recolhimento é o  sinal que primeiro há de buscar-se, para conhecer o plano em que se desenvolve  a vida da alma.
          Mesmo as obras e ações mais  maravilhosas não adquirem por isso um nível transcendente de existência; o  único que dá a uma obra o caráter divino é o nível espiritual da vida interior  das almas que a realizam.
          Enquanto as almas se  desenvolvem, pensam e vivem dentro da dualidade de pensamentos, aspirações,  sofrimentos e problemas, seu círculo está dentro do potencial mundano no  espiritual.
          Mover-se dentro desse círculo  não tem sentido para Cafh.
          Cafh não teria nenhum valor  real sem esse sentido divino de sua vida dado pelo transcendente da Renúncia.
          O conceito do transcendente,  como mera atitude da mente, não tem sentido, porque situa numa falsa posição  com respeito da realidade, mas sim o tem o espaço interior transcendente, que  põe cada coisa em seu lugar e a alma no seu: no coração da Divina Mãe. O olhar  espiritual do Filho tem que dirigir-se sempre para o mais alto e, ainda mais,  manter-se ali pela fixação no recolhimento. 
          
        
        Ensinança 4: A Vida Contemplativa 
          
          A contemplação não afasta das  contingências da vida.
          O mal não está nas coisas  materiais, mas no tipo de relação que se tem com elas. O mal é o afã e o  desejo, que estabelecem a vida ao nível material.
          O afã, assim como o desejo, nivela.
          Quando se consegue uma vida  interior muito profunda, pode haver uma tendência para a indiferença frente a o  exterior.
          A indiferença é um desvio do  caminho místico e impede a verdadeira realização que é expansão por  participação.
          No entanto, esta participação  por ser estática, também aparece como indiferença, sem sê-lo na realidade, e é  causa de que o mundo não possa compreender o verdadeiro contemplativo, nem seu  aparente desinteresse pelas coisas dos homens.
          A vida contemplativa não  consiste na contemplação permanente dos mistérios divinos, mas em uma rotina  ascética de renúncia que transforma os atos ordinários mais intranscendentes em  verdadeiros pilares espirituais, fonte de experiência, compreensão e oração  iluminativa.
          Além disso, a rotina produz  um automatismo das ações correntes. Não que estas se façam só automaticamente;  o Filho participa realmente nelas. Porém, ao adquirir o controle e a capacidade  necessários, as normas e responsabilidades pessoais se cumprem automaticamente,  sem intervenção do elemento determinante da vontade que identifica ao ser com  seus atos. Então este não se circunscreve a uma ação e fica livre.
          A rotina é um automatismo  libertador: o Filho permanece fixo e imóvel em seu centro divino, enquanto o  corpo o a mente trabalham de forma eficiente.
          A rotina faz com que os  exercícios de oração tomem um matiz distinto ao costumeiro. Em primeiro lugar,  perdem seu valor relevante; em segundo lugar, podem fazer-se rotineiramente  áridos, especialmente depois de passado o período purgativo pela eliminação  gradual das emoções extremas. Isto ajuda a que sejam menos racionais e mais  simples. Por outra parte, como a alma tem cada vez menos variedade de desejos,  chega um momento em que todos os temas de oração são apenas variações de uma só  idéia, de uma só aspiração. Isto faz que possa resultar tedioso e difícil  submeter o pensamento a passos que já parecem não ser tão necessários, e se  tende a permanecer quieto, ali, mantendo-se num pensamento simples de renúncia,  de entrega. No entanto, deve-se estar muito atento porque como não se está  habituado totalmente a suster a alma em um ponto, facilmente entram as  distrações e com elas o cansaço, a divagação e até o torpor e o sono. Há que  retornar então ao exercício técnico completo e procurar conseguir  paulatinamente no mesmo uma maior passividade.
          O mesmo ocorre com o hábito  da oração contínua, vocalizada ou silenciosa. Começa-se por manter a atenção no  significado do que se diz, para passar gradualmente através de seu sentido  espiritual, a imobilizar a alma na aspiração única representada por essa  oração.
          Quando só rege uma idéia, um  só pensamento fundamental de Renúncia, todos os atos humanos se fazem  super-conscientes e objetivos pela não identificação com a ação e o interesse  impessoal posto nela. Este estado simples de oração conduz necessariamente à  iluminação espiritual, esporádica ao começo, e depois como um estado  permanente.
          Habitualmente, busca-se um  poder de concentração através de exercícios determinados. Indubitavelmente,  estes dão uma capacidade de concentração e certos poderes mentais, mas só uma  mística de rotina dá o dom da concentração feito vida.
          A rotina elimina o vaivém das  ondas mentais através do ritmo do estabelecido.
          A aparente escravidão de não  ter que pensar o que já está estabelecido, de não necessitar nada pela renúncia  a não desejar mais do que o indispensável, faz que a mente se fixe  espontaneamente num centro único, numa idéia única, e adquire assim o dom de  uma concentração múltipla que potencializa ao máximo o rendimento e as  possibilidades.
          A rotina, além disso, quando  é integral exige o máximo.
          A rotina do homem não é tal  porque ele a rejeita e não submete sua mente ao ritmo. Está ansioso e sedento  de mudança. É a fuga.
          A rotina integral da alma  exige o máximo de esforço e fixação interior, potencializa ao máximo as  possibilidades de expansão mística, porque a alma ao não poder ser encerrada no  círculo material da atividade, e ao não ter escape humano, transcende  instantaneamente e se fixa no centro divino.
          A técnica da contemplação é  absolutamente diferente da técnica da meditação. Nesta última, manejam-se as  forças e atos positivos do ser e o esforço volitivo atua no plano da  consciência comum.
          Na contemplação, a vontade se  faz pura força espiritual que introduz a alma no divino reino interior. Há uma  perda das faculdades comuns de percepção, mas há um desenvolvimento notável das  faculdades intuitivas e sobrenaturais.
          O conhecimento intuitivo da  contemplação é instantâneo, poder-se-ia falar de saber por identificação  instantânea. Não há que entendê-lo como um saber comum, mas como um  conhecimento total, essencial, impossível de verter totalmente nos aspectos  mentais que sempre estão por debaixo daquele.
        
          Ensinança 5: A Contemplação e os Exercícios  de Oração 
          
          O exercício da meditação é um  movimento organizado da mente para produzir determinados efeitos na alma.
          Nos temas amorosos e  iluminativos leva a uma exaltação do sentimento, a experiências sensíveis, até  então desconhecidas.
          Quando a capacidade de sentir  é preenchida leva ao suspense, ao que se poderia chamar o êxtase sensível.
          A meditação passiva, em  troca, se bem que no início se realize mais o suspense permanente da  emotividade, pode levar a um estado sensível mais profundo e obscuro. Ao não  intervir tanto o raciocínio na formação do discurso há maior liberdade para  adquirir estados mais puros.
          A contemplação dá um  conhecimento direto das verdades divinas.
          O afã pessoal por saber  afasta do conhecimento contemplativo. Só a renúncia a conhecer é saber, porque  situa o conhecimento mental dentro do marco relativo das verdades contingentes.
          Quando se busca conhecer,  isto é feito através de indagações do pensamento e do mecanismo racional. No  entanto, há outro modo totalmente espiritual e direto. É uma concentração positiva  sobre o objeto, que deixa em liberdade o espírito para contemplar e saber. É um  saber tão profundo e obscuro que permanece quase desconhecido para a própria  mente e dificilmente ela pode traduzi-lo em definições racionais.
  É como se a alma se movesse num  mundo escuro pela intensidade de sua luz espiritual e tomasse ali contato, não  só com a verdade em si, mas também com a verdade das coisas particulares e  definidas. Talvez Platão se refira a ela ao falar do mundo das idéias.
          Deve-se estudar, mas fazendo  do estudo uma oração.
          Quando se tem um objeto de  conhecimento, ele e uma coisa e nós outra. Esse conhecimento que se pode  adquirir é limitado ao alcance da percepção mental. Porém se se consegue um  estado contemplativo de identificação com o objeto, é-se o que se quer conhecer  e nunca se poderá expressar tudo o que se sabe.
          Quando se alcança a união  substancial com a verdade única e simples da Divina Mãe, já não se deseja  expressá-la, se fosse possível em termos de desejos.
          Quando a alma toma pela  primeira vez contato com as verdades divinas, através de um estado mental  sobrenatural, passa por uma euforia e arrebatamento, no anseio de transmitir a  verdade parcial descoberta. Porém, quando a gente é a verdade, esta se guarda em silêncio. Este é o  voto de silêncio. Não se pode violar o segredo do que não pode ser expressado.
   Há que estudar a Ensinança não só nos textos,  mas na Ensinança Divina que chega continuamente ao coração em Silêncio. Esta Ensinança  se transmite ininterruptamente, por participação através da Presença imóvel da  alma no coração da Divina Mãe.
          Na meditação ativa há uma  exaltação da emotividade; na passiva esta se faz mais profunda. Na fase  contemplativa há uma identificação de sujeito e objeto. Na fase unitiva se  produz primeiro a expansão ativa da alma, como participação ao estado divino e  participante em si e se consegue o conhecimento simples por similitude.
          Quando se transcendem os  estados sensíveis, a União se faz extraordinariamente profunda e em certo modo  se desconecta da realidade circundante. Isto não quer dizer que na expansão  ativa não houvesse um estado transcendente de consciência. Poder-se-ia dizer  que há um maior estado passivo, sem perder por isso a capacidade ativa que se  desenvolve como outra ordem de ação, obscura e indecifrável para o pensamento.
        
          Ensinança 6: A Contemplação 
          
          A Renúncia conduz  naturalmente à contemplação. A Renúncia em si não se pode definir. Entre o  estado perfeito e o estado ascético há um vazio que tem que ser preenchido pela  Renúncia contínua da alma.
          Os atos de renúncia se  entendem como privações, mortificações, disciplina. Porém os laços verdadeiros  se rompem por atos exteriores e interiores. A ambição, a posse, os laços de  sangue e afetivos, o apego à vida, requerem uma ascética integral para serem sublimados  em um amor divino. 
          A ascética interior necessita  do ato exterior, não só como confirmação, mas como método. Não posso saber se  me amo a mim mesmo, até que me proponho não falar nunca de mim, de minhas  dores, problemas, desejos ou dificuldades; quanto mais das minhas qualidades.  Não posso fazer silêncio em minha alma se não sou capaz de calar meus lábios.  Não posso dizer que estou desapegado do mundo se não posso impedir a avidez com  que meus olhos buscam esse mundo com seu incessante olhar. Não posso crer que  tenha rompido os laços de sangue até que o bem-estar e a felicidade de qualquer  um conte para mim como a dos meus, até que os seres queridos não ocupem em meu  coração mais lugar que qualquer alma. Não posso dizer que tenha renunciado à  minha vida quando minha pessoa, meu futuro, minhas necessidades, minhas  realizações são mais importantes para mim que as dos meus Filhos ou as do  mundo. Essa atitude se reflete sempre exteriormente nos gestos, nos olhares,  nas posturas, nas palavras, nas conversas e nos fatos da vida.
          A ascética deve ser conjunta,  a renúncia interior dá uma mobilidade exterior e o controle exterior favorece o  nascimento de uma nova atitude anímica.
          A Renúncia transforma cada  Filho de Cafh no Filho ideal, perfeito, impessoal. É impossível que essa  ascética integral, atuante sobre todo o ser, não dê como resultado a  contemplação mística. Todo o ser é transformado.
          Os atos aparentemente tão  simples (uma postura, um olhar, um silêncio, um trabalho contínuo), que  constituem esse controle interior e exterior, requerem uma vontade e esforço  totalmente consagrados à consecução da perfeição de Renúncia. São uma  verdadeira morte para o homem exterior e, se são bem analisados, ver-se-á como  deles se desprendem uma a uma, sem buscá-las, as etapas e realizações  sucessivas pelas quais passa a alma, até realizar à Divina Mãe, e suas  consequências expansivas de participação e presença.
   O segredo da contemplação espiritual não é um  segredo; atos simples dão resultados divinos. Porém, os atos mais simples são  os mais difíceis de executar quando devem persistir no tempo, rotineiramente,  aridamente, sem um bem possessivo imediato a alcançar, sustentado unicamente  por um amor extraordinário à Renúncia que é a Divina Mãe.
          Na realidade não se poderia  definir exatamente em que consiste a contemplação, mas sim que há normas  ascético-místicas que conduzem à contemplação. O conjunto destas normas,  organizado num método de vida, é o que se chama “estado de perfeição”, adotado  por todos os sistemas religiosos e espirituais que aspiram à união do homem com  Deus. No entanto, essa ascética mística pode ser realizada em qualquer meio e  lugar por todos os homens. 
          A ascética mística da  Renúncia pode ser resumida sinteticamente em: Silêncio, Paciência e Rotina.
        
          Ensinança 7: Provas que Podem Acompanhar a  Morte Mística 
            
          No começo do caminho a alma  está muito ocupada com seus próprios problemas e dores, como para que o mal do  mundo seja para ela outra coisa que uma consideração a que adere por adesão ou  simpatia. Porém, a Divina Mãe ensina através da dor.
          Dificilmente as provas da  compreensão e da fé se apresentam sós; habitualmente são consequências de  provas  sentimentais ou de conflitos  interiores e eles, por sua vez, costumam ser desencadeados por fatos que podem em  aparência ser intranscendentes. 
          Os fatos exteriores não provocam os  conflitos, apenas dão ocasião de que façam irrupção.
          Enquanto a Renúncia não  passava de uma posição da mente e do coração, as dores e as provas não iam  demasiado fundo. Mas a vida prova por si mesma e chega sempre o momento dos  cortes dolorosos e profundos.
          Nesses momentos, a alma sente  como se a Divina Mãe a soltasse da mão e permanecesse só. Não é que Ela a  deixa, mas é impossível que possa perceber Sua Presença quando está toda  absorvida por suas lutas interiores.
          Tudo se faz escuridão e fica  só a dor crua, como se isso fosse a única realidade da existência.
          Se a alma tem um verdadeiro  amor de Renúncia, nesse momento sua dor se faz expansiva..
          Os seres egoístas, quanto  mais aumenta seu sofrimento, mais se encerram em si mesmos. Porém o coração do  Filho se faz grande na dor. Ainda quando não vê nada, quando não tem nenhum  sustento; ainda quando vê a ilusão de todos os laços e apegos, tem ante si uma  realidade viva e tremenda pela sua magnitude: a dor da vida sobre a Terra.  Rapidamente vai tomando consciência, através de seu próprio sofrimento, da dor  ignorada de milhares de milhões de homens. Não só dos que agora vivem no mundo,  mas daqueles que foram e dos que virão. 
          A vida se aparece como uma  imensa bruma, onde tudo está banhado pelo vermelho escuro da paixão e do  desespero. E na profundidade insondável da angústia de seu coração tudo aparece  sem sentido. Não só sua mente, mas toda sua carne, todo seu sangue pergunta:  “Por quê?” 
  É a pergunta impossível de  responder que afunda ainda mais a ferida de seu coração.
          Sua imensa compaixão lhe faz  crer que se separa do Deus da luz, para sumir-se na bruma da miséria humana.  Não quer ter olhos; prefere ser cega e submergir-se no desespero aparentemente  sem sentido da vida, antes de unir-se à suprema felicidade e ao supremo bem,  que sabe que está ao alcance da mão.
          O mundo é para a alma um  imenso poço de sangue, carne e desespero, em que as almas são imoladas  continuamente, um buraco sem luz, sem explicação, sem justificação, sem  destino.
          Isto transcende a capacidade  corrente das emoções comuns; é uma angústia de morte, um estouro. Até a morte  parece um consolo, que se rejeita. Um coração humano não pode senti-lo; não tem  capacidade.
          A alma crê fazer-se mais  humana em sua dor ao fugir de Deus para unir-se ao homem; porém se faz divina.  Crê que se afasta de Deus, mas se une à Divina Mãe. Sua imensa dor, sua  renúncia à compreensão, a luz e a paz; sua consciência da dor e da escuridão da  vida, fazem que leve sobre si o peso do mundo, que sua alma se expanda  transcendendo a dor e a não-dor, a luz e a escuridão.
          Não há resposta para as  interrogações últimas da mente; a vida não se explica com uma resposta. A vida  adquire sentido através da Renúncia.
          A uma alma que passava por  esses estados, seu Diretor Espiritual lhe respondeu: “Contemple Cristo na cruz  e encontrará resposta a todas suas perguntas dialéticas”. 
          Esta prova é totalmente  espiritual e todo o ser participa dela. Quando passa, sobrevém a paz. Mas a alma  é outra; ela é Cristo na cruz. Sua compreensão, seu amor, sua consciência, tudo  é participação. Sua vida já é a vida de todos os seres e é, ao mesmo tempo, uma  vida dentro do coração da Divina Mãe.
          Não se participa somente da  dor do ser humano ou do amor de Deus; tudo é uma unidade. Nesta unidade que é o  holocausto vivo e permanente, está a solução do grande mistério, do sublime  mistério da Divina Mãe nas almas.
        
          Ensinança 8: O Voto de Holocausto 
            
  “Minha alma está atada  eternamente a todas as almas. Assim como Deus está preso na criação, assim  minha alma está presa pelo amor a todas as almas. Elas são minha vida; elas são  eu mesmo.” Esta é a perfeição do amor, a perfeição da Renúncia; a desaparição  nas almas.
          Desaparecer não é  aniquilar-se mas ser, expansivamente. Quando essa expansão abarca o universo é  perfeita, é a desaparição na eternidade e infinitude de Deus nas almas.
          Por que essa expansão é  holocausto?
          Os homens crêem que a união é  um gozo sensível, agradável, mas então haveria também uma dor sensível e  agradável.
          A perfeição da União é  desaparição que é holocausto; a imolação do Espírito na vida da separatividade  e a dor.
          Sou o que sou, mas sou nas  almas; nessa dualidade está a dor divina e redentora que só acaba na  Eternidade.
          Pelo Voto Eterno de União se  perde definitivamente o ser como existência separada, e se é, como participação  simples, eterna e universal.
          A união com os que foram e  virão, faz da vida existência eterna, presença divina.
          A união com o Cavalheiro  Grande Mestre é união à Presença da Divina Mãe pela União Substancial.
          O Voto de União é holocausto  porque é o sacrifício último; a não existência desde o ponto de vista pessoal,  a ruptura do último véu de diferenciação.
          O Voto de União é holocausto  porque é união com a dor humana em seu aspecto universal de limitação e  escuridão, como circunscrição de possibilidades relativas; mas ao mesmo tempo  de aquisição de possibilidades expansivas ilimitadas por reversibilidade, por  presença imóvel na essência da dor e da limitação.
          A união eterna com o  Cavalheiro Grande Mestre faz do Filho expressão permanente da Vontade e do  Verbo divinos, e imagem perfeita da Divina Mãe.
          Faz-se imagem do Deus-homem,  do divino mediador; sua vida humana é um ato eterno e contínuo como sacrifício  de carne e de sangue.
          A dor redentora, a dor pura,  não pode ser conhecida pelo homem.
          Não é um sentir; é um ser, um  viver, uma interpretação de forças. Não é uma vivência, mas a vida mesma da  alma. É o ato de suprema Renúncia; não se renuncia à limitação, mas à  Eternidade, à paz definitiva. Tem que ser assim. A perfeição é um estado  impessoal expansivo.
          A União Divina é o êxtase  perfeito; retornar à vida sem perdê-lo é a expansão do mesmo sobre os homens e  o mundo. Não para fazer uma dualidade, mas porque em Deus a dualidade não  existe.
          A União Divina é desaparição;  só fica a testemunha simples como testemunho de Deus sobre a Terra.
          A participação de holocausto  está ali, frente à alma, como sua própria vida, seu destino, seu ser. No  entanto, permanece o grande mistério da aquiescência, da liberdade da alma.
          O Holocausto, para ser tal,  há de ser um ato espontâneo da alma livre. Não estritamente como uma oferenda,  mas como expressão da última oferenda: sua individualidade, sua liberdade  divina e soberana.
          Não há liberdade senão através  da participação da alma na vida, na existência plena de Hes e Ahehia: Ele é;  Ele não é; Ele é um; Ele são muitos. É Holocausto aos olhos da separatividade;  vida para o Espírito.
          Voto: o Voto é o selo, o  estigma divino sobre a alma transformada. A confirmação eterna; um ato  contingente dentro do tempo se faz simples e eterno. É o nexo entre a Divina  Mãe e a alma: a aliança divina.
          Eterno: o Filho, por sua  renúncia, faz-se imortal: Ele é, ele foi, ele será; nos Filhos, nas almas, nos  mundos, na Eternidade.
          De União: participação de  presença. É testemunha simples de Deus em cada alma e é, ao mesmo tempo,  holocausto vivo do amor e dor em cada uma delas, fazendo-se uno com elas para a  Eternidade.
          Com os 43 Filhos da Távola:  estabelece-se o círculo magnético divino-humano. Divino através da União  Substancial com a Divina Mãe. Humano porque é realização da Idéia Simples na  carne, o sangue e a dor do mundo dos homens, holocausto de sangue.
   E com todos aqueles que foram e que virão: a  participação humana se faz expansiva, remonta a separatividade, abarca todos os  mundos, todos os estados de vida e consciência, até fazer-se uma unidade  simples e eterna, como Ired, como vida divina.
          Recebei Filhos de Cafh minha  bênção: O Ired se fecha: a União Divina é um êxtase perfeito que se derrama  continuamente sobre as almas e o mundo.
          O Voto Eterno é Voto de  Holocausto porque é Voto de Participação substancial.
          A União com o Cavalheiro  Grande Mestre é união com a divindade, imolando-se eternamente nas almas. É o  sangue divino unido ao sangue humano, liberando-o através de sua dor redentora.
   A dor redentora não é dor humana, mas a dor  divina fazendo-se humana. A Divina Mãe se fazendo carne e sangue com seus  Filhos.
          A expansão da alma, ao  fazer-se não determinada, transforma-a em presença mística em todas as almas.  Todas as almas vivem assim na alma do Filho, e ele faz de sua vida a vida de  todas as almas. Transforma-se assim em imagem perfeita da Divina Mãe, não só  por sua União Substancial com Ela, mas como expressão perfeita Dela, no sentido  de uma vida feita existência universal.
          Ao fazer-se uno com o  Cavalheiro Grande Mestre ele se faz uno com a Eternidade.
          O Cavalheiro Grande Mestre é  um e único, expressão do Espírito Divino que é a vida de Cafh. O Filho se faz  assim o protótipo, o Filho ideal, divino, perfeito, imagem do Filho, o divino  Iniciado, o Redentor.
          O Voto de União de sangue com  os que foram e serão, é o laço indissolúvel de amor que o faz co-redentor por  participação substancial com o Divino Iniciado.
          Seu Voto de União com os 43  Filhos da Távola, liga-o espiritualmente à coorte de seres divinos, que formam  o círculo místico de ajuda e salvação para a humanidade. Liga-o,  indissoluvelmente, ao destino divino e ao padecimento humano, como cadeia  eterna feita com elos de amor e dor, de sangue e espírito.
          A emissão dos Votos se  apresenta à alma como a culminação de todo um esforço e conquista espiritual. O  Voto de Holocausto não pode ser considerado dessa maneira. O Holocausto não  pode ser uma conquista, é algo que já está na alma.
          O Voto não é mais do que a  confirmação do que já está na alma. O Voto é para o Filho o Selo Divino posto  sobre sua imolação humana e espiritual. É o irrevogável, o definitivo, o  Eterno.
          O Caminho da Renúncia é de  realizações objetivas, concretas. Do contrário, a Renúncia seria uma outra  abstração. Renuncia-se aos bens possessivos, mas os bens espirituais há que  possuí-los, para poder dá-los.
        
          Ensinança 9: A Oração e os Votos 
            
          Fala-se, pensa-se, sente-se,  sempre em termos dualísticos e a vida é uma unidade. Não há que entender essa  unidade como uma coisa só, mas como um todo orgânico indivisível e simples em  si, composto como atributo.
          A alma não é simples; por  isso a oração é só um ato para ela, porém a oração é sua força, sua potência e  sua possibilidade divina; sua desaparição como alma.
          Da mesma maneira, os Votos  são algo exterior ao ser, até que são realizados como expressão espontânea do  ser sobrenatural.
          Por isso, os Votos se  conquistam através do esforço espiritual e se realizam através da morte; morte  no sentido de desaparição mística na Divindade.
          A oração leva a alma a um  estado divino idealmente e os Votos são a expressão real e permanente dessa  realização.
  É verdade que humanamente o  Voto é uma expressão contingente, mas ao mesmo tempo é um ato eterno de  identificação com a própria verdade espiritual.
          A ascética da oração leva  necessariamente à realização progressiva da oferenda através dos votos, mas os  Votos são sempre expressão única do verdadeiro ser espiritual. De não ser assim  não seriam um ato simples, divino; seriam só uma atitude.
          Fala-se aqui do Voto em seu  sentido divino e sobrenatural.
          Se os Votos não fossem  expressão necessária do espírito, não seriam a expressão da liberação do ser  mas sua escravidão. Por isso, cada Voto é, através da limitação que impõe, um  campo de possibilidades divinas para a alma.
          Na realidade, em sentido  sobrenatural, só pode falar-se do Voto: da aliança sobrenatural entre o homem e  Deus. Porém, humanamente é necessária a aproximação gradual do homem à Divina  Mãe.
          O único que existe, como  Voto, é o selo divino na alma: o nexo simples e eterno entre Deus e o homem.
          O Voto, como realização da  vocação espiritual, é um ato livre da alma; não é na realidade um ato de  eleição senão de assentimento.
          A Divina Mão chama a suas  almas; elas só podem dizer: sim ou não.
          O Filho, ao pronunciar seu  primeiro Voto, não pode conhecê-lo em toda sua mística profundidade, mas sabe  que ele é através desse Voto. É a percepção intuitiva da verdade da vocação  através da oferenda da Renúncia.
          Os Votos são. Ao ser a  possibilidade divina da alma, são sua única realidade.
          A oração é, então, um caminho  de auto-reconhecimento através dos Votos. O reconhecimento através dos Votos é  a identificação espiritual com o valor transcendente dos mesmos.
          O significado do Voto perde  assim suas limitações humanas e adquire uma grandeza incomensurável. Neles está  vertida toda a doutrina e o caminho, as Ensinanças e a mística da desaparição  (silêncio), e presença (holocausto).
          Os Votos devem ser o objeto  da oração, porque neles estão resumidos todos os tesouros espirituais do Filho.
        
          Ensinança 10: O Conhecimento Simples 
          
          O conhecimento simples é um  estado de unidade e similitude entre sujeito e objeto. Esta unidade é  impossível de conseguir através de um estado ativo da mente, que sempre é  dualista. O conhecimento ou compreensão racional é sempre dualista. Os  exercícios passivos reduzem o movimento mental, tendendo à subjetividade. Uma  imagem ou estado subjetivo não é dualista e tende a outro tipo de vivência.
          Quando se adquiriu a  capacidade de identificação subjetiva e com imagens objetivas, pode-se passar à  concentração subjetiva sobre imagens abstratas, e alcançar assim uma nova ordem  de conhecimento e um estado mental sobrenatural.
          A contradição, o paradoxo, o  conceito irracional, é uma forma de conseguir essa identificação subjetiva e um  conhecimento simples. O paradoxo, o irracional, imobiliza a mente racional como  se fosse um choque. É como tomar um forte empurrão para deter-se subitamente,  bruscamente. Esta detenção mental, essa perplexidade sistemática, impede o  razoamento lógico e prepara o espelho mental para outro tipo de percepção, mais  passiva e subjetiva.
          A expressão incompreensível  nasce espontaneamente, porque a limitação da linguagem faz surgir  inevitavelmente a contradição quando se aspira elevar-se às verdades divinas.
          Outra forma de conseguir um  conhecimento subjetivo é através do exercício da meditação potencial;  provoca-se o estímulo mental, mas não se permite a resposta racional. Essa  força geradora e não gasta em um sentimento ou em uma compreensão comum, conduz  facilmente a uma identificação subjetiva e um conhecimento simples.
          O fato de que o conhecimento  assim adquirido seja subjetivo não lhe subtrai realidade. Um conhecimento é tal  quando é parte da alma, é o próprio indivíduo; do contrário é uma teoria, uma  abstração. É claro que pode não ser um conhecimento total, mas é um meio de  alcançar esse conhecimento total.
          Quando a ascética adequada é  sustentada por um estado real de Renúncia, a consciência pessoal vai deixando  de ser o sujeito e se amplia paulatinamente para o ser espiritual. Então a  identificação não se produz com um objeto de conhecimento arbitrário, mas com  estados de consciência cada vez mais amplos, até que todo o ser se transforma  num estado em si único, simples e divino.
          Tem que chegar o momento em  que o sujeito deve desaparecer. Se não, haveria duas coisas: a alma e a Divina  Mãe. Chegamos aqui ao ponto em que a consideração deve deter-se. Se há  identificação, como não há desaparição? Se é um, não pode ser dois. É um, mas é  dois, porque por mais alto que se chegue sempre se está dentro da expressão de  Deus. Esta dualidade não é multiplicidade, mas a simplicidade por  reversibilidade.
          Este conceito que se choca  com a mente racional, é incompreensível; mas pode ser experimentado,  transformando-se a si mesmo, pela oração e a Renúncia, em imagem dessa  simplicidade através de um estado interior de similitude. Assim se consegue uma  identificação contemplativa e se é o que se quer conhecer. No entanto, isto  ainda é um movimento da alma e não é a suma perfeição que é Presença.
          Até agora a alma só conseguiu  identificar-se e transformar-se no movimento simples que é a vida. Quando se  consegue a imobilidade espiritual que é Presença, não se é a vida, se é  testemunho da vida, Testemunho Simples da Eternidade, imagem perfeita e similar  da Divina Mãe que porque Não é, É.
          O conceito de potencial só  existe em relação com o fator tempo. A eternidade não é um tempo infinito, mas  o não-tempo. Quando venceu o tempo pelo ato externo de Presença, realizou-se o  potencial, Hes. A Ressurreição de Hes, entendida racionalmente é a  transformação do potencial em ativo, porém espiritualmente significa a  realização da alma, o nascimento à consciência espiritual do ser que transcende  toda dualidade. O exercício de meditação tende a levar a esse estado de  consciência, além das distinções racionais de diferenciação e se consegue por  um recolhimento profundíssimo, que está além da técnica e das diferenciações  racionais.
        
          Ensinança 11: Dificuldades na Oração 
          
          Algumas almas se queixam às  vezes que não podem meditar porque lhes resulta pesado o exercício, cansam-se e  pedem a seus Superiores que lhes façam mais leve a rotina de sua disciplina  espiritual. Os Superiores observam também que os métodos de oração não dão o  resultado esperado, em todos os casos. Não se nota um adiantamento evidente na  oração, há um aparente estancamento. Depois de um momento de entusiasmo, vem o  desinteresse, o fastio, o cansaço. São muito poucos os que perseveram e muitos  os inconstantes. No entanto, ainda quando não se persiga um fim imediato, o  exercício de meditação feito metodicamente dá sempre, necessariamente, um  resultado; e chega um momento na vida em que se recolhem espontaneamente as  consequências da ascética espiritual.
          Apesar disso, não em todos os  casos o resultado da ascética é o que deve ser; a transformação total das  almas. Dentro do caminho ascético místico podem apresentar-se muitos tipos de  dificuldades, mas fundamentalmente, são de dois tipos: o primeiro consiste em  todos os problemas e tropeços inerentes à própria ascética. Estes são lógicos e  convenientes, já que é parte desta ascética. Os segundos nada têm a ver com  aquela, e são derivados da posição fundamental que tem o Filho com respeito à  sua vocação e a sua situação.
  É imprescindível distinguir  claramente estes dois tipos de problemas. Se assim for feito, produz-se  rapidamente uma grande desorientação interior, sentimentos de estancamento e  fracasso.
          Discernir clara e exatamente  o motor e a origem das dificuldades e atitudes das almas é fundamental para  orientá-las definitivamente para a realização de sua vocação espiritual.
          Para que a orientação seja  plena e seus resultados transformantes, o Filho deve ser uma Unidade. Uma  unidade em seu sentir, em seus esforços, em suas aspirações, em sua vida, em  sua vocação. Se não for assim, sua ascética será descontínua, seus esforços  serão encontrados e lhe resultará muito difícil participar da vida espiritual  de Cafh.
          Se o Filho faz de Cafh outra  de suas coisas, sua vida não poderá estar centrada em si, porque Cafh será para  ele algo, mas não ele mesmo. E essa dualidade é impossível. Deste modo a oração  não pode ser plena, total. Se o Filho é uma unidade, dessa Unidade flui a  Ensinança, flui a palavra criadora, flui o exemplo, flui a paz, flui a  irradiação de presença. Senão o Filho é um esforço descontínuo, uma idéia  esporádica, um avançar, um deter-se, um retroceder. Deste modo é impossível  participar substancialmente na Grande Corrente; por um momento se integra à  mesma e depois, choca-se com ela. Por isso, algumas vezes as almas se sentem  desconformes. Elas crêem sinceramente que o estão com a meditação, com o método  ou com qualquer coisa exterior, mas em realidade estão desconformes com elas  mesmas. É comum descarregar fora a responsabilidade que não se está disposto a  assumir.
          Dá-se o caso, além disso, de  algumas almas que mesmo que se inclinem para Cafh com grande entusiasmo, também  têm dificuldades em seu desenvolvimento espiritual. Muito entusiasmo nunca  emana de uma posição realmente espiritual. O entusiasmo é um sentimento muito  pessoal que surge de satisfações também pessoais. É a euforia que se sente ao  receber os Dons de Cafh. Se por trás disso não há uma verdadeira vocação de  Renúncia, a força do entusiasmo dura muito pouco e rapidamente as almas se  sentem detidas; surgem as dificuldades e se começa a perder o tempo buscando a  origem dos conflitos no modo de cumprir os exercícios espirituais, os problemas  externos, etc. Quer dizer, indaga-se a causa imediata, quando na realidade a  verdadeira raiz está na falta de consciência vocacional das almas.
          Enquanto a força que anima o  Filho não for totalmente impessoal e desinteressada, dificilmente poderá achar  plenitude na sua ascética mística. Viver a Renúncia é viver sem apegos, sem  ilusões pessoais, sem esperar nada. É viver só com a Divina Mãe. Mas ás vezes a  presença da Divina Mãe é uma solidão maior ainda, porque pode ser uma presença  obscura, uma não presença, um desconhecimento da Essência Divina para  permanecer só um conhecimento das responsabilidades, da rotina, da tarefa  diária.
          São poucas as almas dispostas a dar  tudo; são poucas as almas dispostas a dar-se completamente. São poucas as almas  a saltar por cima de seus excessivos problemas e dores, para viver a União  Substancial com a Divina Mãe através de uma oração de Renúncia.
     
  
  
          Ensinança 12: Testemunho Simples 
          
          A oração não pode ser plena e  total se todo o ser não está posto nela. Ao dizer todo o ser não significa a  veemência do vôo sensível, mas o ser em sua totalidade.
          Como as almas não são uma  unidade, há nelas desejos encontrados. Estes desejos fazem que não seja  empregado todo seu ser numa só idéia, mas são forças opostas e dispersas.
          Não basta toda a boa intenção  posta na oração; esta intenção deve fazer-se atuar permanentemente, para  canalizar todas as forças para a idéia Única.
          Depois de um tempo no caminho  espiritual, o Filho deve ser expoente da Doutrina. Do contrário, é um estorvo.
          O Filho deve ser testemunho  vivo da Renúncia e não o conseguirá se não for testemunho de fé. Não basta  crer; há que ser o que se crê.
          Além disso, da ação mística  sobrenatural das almas consagradas, o mundo necessita de um exemplo vivo de  homens e mulheres que fizeram carne da Doutrina.
  É impossível que se possa  plasmar no mundo a idéia fundamental da Renúncia, se não encarnar primeiro em  quem deve predicá-la.
          O Filho deve ser testemunho  vivo de sua idéia; exemplo simples, presente frente ao mundo como imagem sempre  permanente da perfeição.
          Os Filhos devem ser a  Renúncia feita carne, feita sangue, feita vida. A hora urge, são muito poucos e  a obra é imensa.
          Têm o mundo em suas mãos;  seus objetivos são universais e extraordinários. Não podem dilapidar uma gota  de energia, um instante, um pensamento, nada.
          Tudo deve estar centrado na  idéia Única da Renúncia.
          Os Filhos são poucos. Aqueles  que não estiverem dispostos à entrega total e absoluta não podem durar. A  Divina Mãe quer tudo ou nada. Não importa que sejam muito bons; não os quer.  Então, devem unir-se muito fortemente para constituir uma força poderosa e  invencível em sua oferenda. E para consegui-lo devem ser totais.
          Para ser testemunho de fé há  que queimar-se nessa fé absoluta que é a Renúncia e morte. Só através da desaparição  espiritual se é testemunha simples da Idéia Divina.
          De nada vale falar de  mistério tão divino como este, se não se está disposto a entregar a vida na  morte de uma Renúncia continuada e inalterável. Ser Testemunho Simples é haver  desaparecido através da União Substancial com a Divina Mãe.
          O Filho fica imóvel em seu  centro divino e ali permanece como testemunha de Presença. Ele é, simplesmente.
          Não é necessário ouvir a  prédica do Buda; basta olhá-lo.
          Assim o Filho, como presença  imóvel em seu centro divino em   sua Idéia Única, em sua Renúncia, é prédica e ação, união e redenção,  ato e potência, amor e dor, vida e morte. Ele é.
          A oração é o meio para  realizar a Deus; porém deve ser plena, total, integral.
          A oração não pode ser plena  se não abarca todo o ser. Não só sua mente e seu coração; mas seu corpo, sua  vida, suas possibilidades; seu passado e seu futuro; toda sua existência deve  estar ali presente para ser queimada totalmente no fogo divino da Renúncia.
          A União Substancial é isso;  quando todo o ser, corpo, mente e espírito, fixa-se permanentemente no ponto  simples e eterno que é a Divina Mãe.
        
          Ensinança 13: Vida de Oração 
          
          Para que a oração seja plena,  o homem tem que se transformar em um testemunho de fé, deve discernir  continuamente na ensinança as verdades evidenciadas e as verdades possíveis. A  alma está sempre num estado de perfeita oração quando tem a verdade divina  centrada em si.
          Para que os exercícios de  oração tenham um efeito espiritual pleno, a meditação discursiva deve estar  baseada na fé.
          A meditação sensitiva há de  estar baseada numa renúncia constante com respeito às emoções e satisfações  cognoscitivas, para permanecer num estado mental-sentimental divino  desconhecido (algo não visualizado).
          A oração perfeita é sobre o  desconhecimento da Essência Divina.
          A vida do Filho, para ser  tal, há de ser vivida em oração.
          A plenitude na oração é uma  coisa diferente do que comumente se imagina. Quando, às vezes, sente-se  plenitude na oração, não é que se faz uma oração plena, faz-se uma oração sensivelmente  plena. Uma oração sensivelmente plena é um gasto, uma emoção, um sentir.
          A oração plena é um estado de  vida do ser, não um sentir. A vida inclui sentir, mas é um sentir, não é vida.  A oração deve sair do plano dos sentires para colocar-se na vida do ser.
          Só quando a oração é a vida,  não é descontínua. Só quando a oração é a vida do ser, o ser está centrado.  Porque então a oração não é uma coisa que se faz com os lábios, ou se vocaliza  com a mente, ou se visualiza com a imaginação. A oração é um controle contínuo  do ser, um manter-se sempre em seu centro. Em seu centro integral: não em seu  centro ideal, em seu centro imaginativo, em seu centro emocional. É a  localização contínua do ser como homem, como alma, como força dinâmica, como  fixação extática, como trabalho afetivo, como trabalho volitivo, como trabalho  físico. É a localização do ser na integralidade da vida.
          Então, não é um ato de oração  o que é pleno: o ser é plenitude. E só através dessa plenitude se obtém a força  necessária para poder transmitir a idéia da Renúncia e cumprir sua missão na  vida.
          Manter-se situado em Cafh não  é fácil, porque é uma colocação dinâmica.
          Em Cafh nunca se pode dizer:  estou situado, porque ao dizer ‘estou situado’ já se está fora de situação. A  situação, ao ser dinâmica, exige a renúncia contínua do ser, que é a liberdade  do ser. Então, o Filho ao ser livre, posiciona-se na dinâmica de Cafh, que é a  dinâmica da vida e sua colocação transcende.
          Por outro lado, quando o  Filho compreende a limitação de seu trabalho humano, dentro do campo magnético  em que atua, ao limitar suas pretensões, ao circunscrever-se a uma idéia  concreta e não pretender de seu trabalho mais do que este é, transcende e se  situa universalmente.
          
          
          
          Ensinança 14: A Oração Plena 
          
          Não pode haver oração plena  enquanto exista nela um resto de interesse pessoal. Esse egoísmo, embora seja  espiritual, impede uma expansão num sentir universal.
          O homem não pode transcender  suas pequenas misérias, a não ser renunciando a elas. Por isso, quando se  propõe enfocar um aspecto universal, uma lei transcendente ou um estado  espiritual, não o consegue. Não pode fazê-lo porque o faz com um fim, para  conseguir algo, uma compreensão, uma expansão pessoal. Esse interesse, esse  afã, esse egoísmo, fecha-lhe a possibilidade do contato com uma esfera de  consciência mais ampla porque circunscreve sua elevação interior, a seu raio, à  sua percepção, a seu estado de consciência. Por isso, ainda quando se façam  muitos atos de renúncia, não por isso se chega a uma compreensão ou alcance  além de si mesmo.
          Tudo depende do motivo, da  idéia que rege esse esforço. Essa idéia única deve ser a Renúncia real, não a  Renúncia ideal.
          Só se conhece quando já não  se deseja o conhecimento, só se possui quando nada se tem.
          A posse só é possível por  reversibilidade.
          O desprendimento, a oferenda,  o sacrifício, o ato contrário, contrário à natureza humana, contrário a seu  estado de consciência, contrário ao instinto e ao egoísmo animal, contrário ao  movimento pessoal da vida, destrói a casca, o círculo estreito de um estado  limitado para abrir a alma a um novo mundo, ao Universo, à existência.
          A Renúncia é posse por  participação, é plenitude, é vida. Porém, é alcançada pelo sacrifício, pela dor  e pelo absoluto domínio da natureza animal do homem.
          Não pode haver oração plena,  se a vida não é uma unidade, se não se vive o que se diz. 
          A Renúncia não adquire  sentido pelas explicações ou pelo brilho oratório, mas pela autoridade que dá a  posse da Renúncia. As palavras soam ocas, retóricas, se não estão carregadas  pela força da fé viva da alma que só se obtém com o sacrifício contínuo, a  oração, a oferenda, o holocausto.
          A oração não pode ser plena  se não se expressa na vida exterior.
          O ser é como todos os homens  do mundo, mas não pode ser igual a eles.
          A Renúncia põe um selo na  alma, que é visto, sentido, tocado, tão real é.
          Se se renunciou a tudo, essa  atitude tem necessariamente que expressar-se na relação com a vida, os seres,  as coisas.
          A realização não é uma  palavra, é um fato vivo, concreto, evidente e se reflete em fatos vivos,  concretos, evidentes.
        
            Ensinança 15: A Concentração Subjetiva 
            
          Na meditação sensitiva a  imagem é percebida através dos cinco sentidos. O objetivo é afinar a  sensibilidade dos sentidos para aguçar sua percepção. No entanto, este exercício  não permite transcender a evidência sensível.
    Há um tipo de oração que, se bem assume a  forma de uma meditação comum, é um verdadeiro exercício de concentração  subjetiva.
          Na concentração comum o ser  fixa a atenção ativamente sobre o objeto, até que consegue que a mente não se  mova dali. A concentração se faz subjetiva quando começa a identificação entre  sujeito e objeto. Esta experiência pode começar na meditação.
          A diferença característica  está no quadro imaginativo.
          Começa-se por fixar a atenção  na imagem e, pouco a pouco, translada-se a consciência para a imagem. Por  exemplo: vê-se uma ave no céu, flutuando no ar. Fixa-se esse flutuar no ar até  que se começa a sentir que se flutua no ar, como se fosse a ave. Isto, que  começa por ser um simples exercício, leva a uma identificação profunda com o  ser das coisas e ainda com as coisas inanimadas, que só pode ser conseguido  através de um estado subconsciente.
          No estado consciente comum  essa identificação é impossível. Na concentração subjetiva acontece como nos  sonhos. Vê-se uma imagem qualquer, absurda talvez, mas se sabe que é uma ou  outra pessoa.
          Em realidade, este é só um  exercício subjetivo, mas que facilita a consecução da subjetividade na  meditação.
        
          Ensinança 16: A Oração de Participação Natural 
          
          Vê-se uma imagem e se entende  outra coisa, mas não qualquer coisa e sim o que esta imagem representa como  símbolo.
          Por exemplo: vê-se uma porta  e se entende uma possibilidade. Não se entende como se fosse uma interpretação,  mas como se se fosse essa porta, essa possibilidade. Vê-se a paisagem por uma  janela, é um novo mundo que entra na consciência. Não é que se entenda que virá  a nós esse mundo, mas sim que se é esse novo mundo.
          Estes estados não devem ser  buscados. Não se pode dizer que a participação natural seja alcançada através  de um exercício. Mas é bom saber do que se trata. Particularmente, porque é uma  evidência e prova de uma teoria: o mundo dos símbolos arquetípicos. É como se  no inconsciente da Raça estivessem gravadas as imagens gráficas representativas  das Idéias Fundamentais próprias de seu desenvolvimento.
          Estas imagens aparecem às  vezes no mundo dos sonhos, porém podem ser possuídas através da experiência  direta dada pela meditação.
          Na meditação objetiva, o  plano da ação está fora de nós. Eu sou o sujeito e o objeto. Há um fluir de  forças de mim para ele. Na concentração subjetiva eu sou o objeto-sujeito, eu  sou a ação. A experiência subjetiva é total. A meditação transcende o simples  exercício, é um estado vital do ser.
          A elevação subjetiva, ao  invés de ser um movimento para fora, como um pedido, é um tomar consciência na  profundidade da alma e aprofundar-se num recolhimento muito profundo. Todo  movimento é dualidade. O estado subjetivo é simples. Se existe movimento, é um  movimento em si.
          Em realidade, faz falta uma  nova linguagem. A linguagem comum expressa estados ativos, objetivos. Mas não  há qualificativos para estados passivos, negativos, subjetivos e  subconscientes. Daí a impossibilidade de definições precisas. Talvez a  comunicação tenha que transcender a expressão verbal para fazer-se uma  interpretação de estados que permita a compreensão por similitude.
          
        
        ÍNDICE:
        Ensinança  1: A Vocação Contemplativa 
        Ensinança 2: Recolhimento
        Ensinança 3: O Estado de Recolhimento
        Ensinança 4: A Vida Contemplativa
        Ensinança 5: A Contemplação e os Exercícios de Oração
        Ensinança 6: A Contemplação
        Ensinança 7: Provas que Podem Acompanhar a  Morte Mística
        Ensinança 8: O Voto de Holocausto
        Ensinança 9: A Oração e os Votos
        Ensinança 10: O Conhecimento Simples
        Ensinança 11: Dificuldades na Oração
        Ensinança 12: Testemunho Simples
        Ensinança 13: Vida de Oração
        Ensinança 14: A Oração Plena
        Ensinança 15: A Concentração Subjetiva
        Ensinança 16: A Oração de Participação Natural