N° 77 - Reportagem ao Demônio

O 23 de maio deste ano, o jornal O Globo de Brasil em sua Editorial Segundo Caderno, publicou uma “Entrevista a Marcola do PCC”. Ele é Marcos Camacho, chefe da perigosa banda carcerária de São Paulo denominada Primeiro Comando da Capital (PCC), que durante este ano há provocado numerosos atos de vandalismo nessa cidade e arredores. Consideramos importante que os leitores das Ensinanças conheçam a cultura criminal e as motivações profundas destes seres já disseminados por todo o planeta, porque são as palavras do demônio, amo do inferno deste mundo nos dias de transição da antiga civilização corrupta e em dissolução, para a Nova Era de Aquário. A seguinte é a tradução textual da reportagem.

- Você é do PCC?

- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...

- Mas... a solução seria... 

- Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC..., e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até “conference calls” entre presídios...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.

- Você não tem medo de morrer?

- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar..., mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio; li 3.000 livros e leio Dante..., mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo. 

- O que mudou nas periferias?

- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$ 40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha.   Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em “superstars” do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

- Mas o que devemos fazer? 

- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está  quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo.... Já pensou? Ipanema radioativa?


--- Mas... não haveria solução? 

- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi che entrate!" Percam todas as esperanças. “Estamos todos no inferno.”

Esta é a entrevista do diabo, pensando em voz alta com um repórter de um dos jornais mais importantes do Brasil sobre sua própria situação e o que ocorre fora dele; sua conclusão: “Estamos todos no inferno”. O diabo se pluraliza, diz “nos” e pluraliza o repórter chamando-o de “vocês”. Embora tenha lido muito na cadeia, não é sábio, é astuto. As brigas de rua que o formaram lhe deram esse caráter belicoso, desafiante na conversa, o que lhe permite desenvolver uma notável habilidade dialética. A força dos débeis é a astúcia, no bem e no mal. Esse “nos, vocês” se aplica não só aos integrantes do PCC de São Paulo e aos favelados do Rio, mas também às massa de todo o mundo, os que estão no Oriente Próximo fazendo a guerra ou com seus “homens-bomba”, os incendiários de Galícia, os milhões de de consumidores de drogas, os doentes terminais de AIDS, os desesperados que se lançam à deriva oceânica em cayucos repletos, e também os corruptos que governam e manejam negócios espúrios em todo o mundo. Se o diabo lê o Inferno de Dante, que outra coisa poderia estudar?. Assim compreende e justifica seu abismo criminal junto aos seus. A Barreira Radiante do Maitreya não lhe permite escapar, porque o novo espaço que o Redentor há inaugurado está em outra dimensão e em outro lugar.

Desde estas páginas de Ensinanças do Mestre Santiago, rechaçamos rotundamente as afirmações enganosas do personagem entrevistado. Não está louco nem desvaria; sua fraude consiste na generalização de uma tese para territórios que desconhece; é um ignorante que chama a atenção pela audácia de seus argumentos, não pela verdade. Muitos outros filósofos e colunistas empregam o mesmo sistema para escandalizar, vender, ser conhecidos, provocando confusão e as mesmas perguntas do repórter; “Então, não há solução?” O diabo responde que não, porque lhe convêm.

Leitor: a Nova Era de Aquário já começou e a entrevista que consideramos, com o que contém e alude, pertence ao passado, incluindo a Marcola e seu inferno. Em Aquário, o Forte Libertador está no homem ajudando-o a conquistar sua perfeição individual, intransferível, passo a passo, uma encarnação trás a outra, caminhando pela senda da Renúncia, sempre em vigília e em sonhos, na rua, limpando a casa, estudando na escola, trabalhando no escritório, rindo na alegria, e chorando nas penas, sempre. O Caminho da Renuncia é a maneira de ser na nova dimensão de vida. Nos, os Aquarianos, não tememos nem o inferno nem a morte, porque ambos não existem, são ilusões dos ignorantes. A perfeição está em nos e caminhamos alegremente. Dar é o primeiro passo da perfeição.

José González Muñoz
Agosto de 2006

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